A Vinha de Raquel como caminho de cura e de esperança para quem passou pelo drama do aborto
As consequências do aborto
As mulheres que um dia se decidiram pelo aborto fizeram-no, quase sempre, pensando ou sendo levadas a pensar que não tinham outra alternativa. É muito comum tomarem esta decisão fortemente pressionadas por diversas circunstâncias e com a expectativa, de que, após o aborto, a sua vida voltará ao ponto em que estava antes da gravidez. Mas, mais tarde, tarde de mais, esta expectativa revela-se ilusória.
De facto, o aborto, nas mulheres que o fazem, provoca um profundo e violento impacto a nível físico e sobretudo psicológico e espiritual. E, em muitos casos, com pesadas repercussões que o passar do tempo não faz desaparecer.
Quem passa por um aborto ainda que tente, não consegue esquecer. E não só não esquece, como sabe, ainda que o possa não admitir, que passou por algo de profundamente errado, algo de profundamente contrário à sua natureza de pessoa, de mulher e de mãe.
Nos últimos anos tem-se vindo a afirmar cada vez com mais consistência, a realidade do Síndrome Traumático Pós Aborto. Mesmo apesar de não ser “politicamente conveniente”, e por isso ainda não reconhecido em termos oficiais, muitos psicólogos e psiquiatras (Teresa Burke, David Reardon e Phillip Ney, entre outros), afirmam que esta situação afecta muitas pessoas que precisam de ajuda, de ajuda especializada. O Síndrome Traumático Pós Aborto é confirmado pelos seus estudos, pesquisas e pelo trabalho que desenvolvem no acompanhamento de pessoas que passaram pelo aborto. De forma muito breve, e sem nenhuma pretensão de aprofundar este tema, que dada a sua especificidade e complexidade nos remete para o trabalho dos especialistas1, adianto que este sofrimento atinge muitas pessoas, algumas que tenho conhecido directamente, e é muitas vezes vivido em silêncio, na solidão. Quem passa por esta situação enfrenta, em tantos casos, a incompreensão por parte dos mais próximos e até dos que directa e indirectamente estiveram implicados na decisão de abortar. Este é um drama humano de consequências e com implicações pouco conhecidas. Entre outros, alguns dos sintomas deste síndrome pós traumático são: ansiedade, comportamento auto destrutivo, pesadelos, flashbacks, abuso de drogas e álcool, dificuldades ao nível da relação de casal, impulsos suicidas, sentimento de culpa permanente.
Para muitas pessoas o aborto foi um ponto de viragem ao nível da sua relação com Deus e com a Igreja, no sentido do afastamento e mesmo da ruptura. Tenho conhecido casos em que, mesmo não havendo uma consciência muito clara, no tempo em que foi feito o aborto, de que se tratava de um pecado e muito menos das suas implicações canónicas, as pessoas passaram a sentir-se longe de Deus, afastaram-se da Igreja e iniciaram um processo de ruptura, que foi acompanhado pela perda da auto-estima, pela falta de esperança. E por isso, após o aborto, em tantos casos, se iniciam percursos de autodestruição, de perdição, que partem um pouco desta atitude de fundo -
A resposta ao sofrimento
A pedagogia da Igreja, que no fundo é a pedagogia de Jesus, é a de condenar com clareza e sem margem para ambiguidades o pecado. Quando falamos de aborto estamos a falar de um pecado gravíssimo e a Igreja desde os primeiros tempos nunca hesitou em afirmá-lo com clareza. Jesus condena o pecado mas não o pecador. Por isso o respeito, a compaixão, a misericórdia, o amor pelo pecador devem estar sempre presentes num olhar verdadeiramente cristão, evangélico sobre esta e qualquer situação de pecado.
Da minha experiência como Padre no contacto com as mulheres e com os homens, (surpreendentemente para algumas pessoas, os homens também são afectados por esta situação), que têm passado pelos Retiros Vinha de Raquel, posso bem constatar que o aborto faz muito mais vítimas além das crianças cuja vida destrói. Como dizia uma das participantes no último retiro que realizámos: «…isto que sinto é uma dor de alma!».
Uma das questões que atormenta muitas e muitos que passam pelo aborto é a incapacidade para acolher o Perdão, que até já pode ter acontecido em termos sacramentais, e portanto, em sentido objectivo, a sua eficácia é inquestionável. Contudo, em termos subjectivos, o perdão não foi acolhido.
Tem-me sido grato testemunhar o actuar da graça no coração daquelas e daqueles que tenho acompanhado na Vinha de Raquel. É verdadeiramente o acolhimento da Misericórdia de Deus que traz consolo, que cura e que pacifica. O trabalho de cura interior que é feito na Vinha de Raquel, através do importante contributo da Psicologia, prepara os corações para verdadeiramente acolher o Perdão de Deus.
O que é a Vinha de Raquel
A Vinha de Raquel é um caminho de Esperança, é uma obra de Compaixão e Misericórdia que surgiu no seio da Igreja e que visa o acompanhamento e apoio espiritual e psicológico, individual ou em grupo a quem sofre por ter passado pela dor do aborto. Colaboram voluntariamente neste serviço, entre outros, sacerdotes e psicólogos que proporcionam de forma discreta uma preciosa ajuda a estas/es irmãs/ãos a partir de uma partilha espiritual centrada na Pessoa de Jesus Cristo, na Sua Palavra, no acolhimento do perdão de Deus. É trabalhada a dimensão psicológica para ajudar a ultrapassar a dor, a angústia e o desgosto reprimido.
A Vinha de Raquel tem tido o apoio formal do Departamento da Pastoral da Família da Diocese de Lisboa e o seu trabalho e divulgação tem sido apoiado e facilitado pela Diocese de Setúbal e também por sacerdotes seculares e religiosos de outros pontos do país.